segunda-feira, 7 de abril de 2014

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A evolução não projetou o cérebro humano para entender a si mesmo com precisão, mas para nos ajudar a sobreviver. Observamos a nós mesmos e ao mundo e entendemos as coisas apenas o bastante para seguir em frente. Alguns de nós, interessados em nos conhecer com mais profundidade - talvez para tomar decisões melhores na vida, talvez para ter uma vida mais rica, talvez por curiosidade -, procuram ultrapassar nossas ideias intuitivas acerca de nós mesmos. É possível. É possível usar a mente consciente para estudar, identificar e penetrar nossas ilusões cognitivas. Ao ampliar nossas perspectivas para levar em conta como nossa mente funciona, podemos chegar a uma visão mais esclarecida de quem somos. Todavia, mesmo enquanto ganhamos um maior entendimento sobre nós mesmos, devemos manter nosso reconhecimento do fato de que, se a visão natural do mundo da nossa mente é distorcida, existe uma razão para isso.
     Um dia, durante uma viagem que fiz a São Francisco, entrei numa loja de antiguidades com a intenção de comprar um lindo vaso que vi na vitrine e estava em oferta, com o preço reduzido de US$ 100 para US$50. Saí de lá levando um tapete persa de US$ 2.500. Para ser exato, não sei ao certo se era um tapete persa de US$ 2.500; só sei que eu tinha pagado US$ 2.500 por ele. Eu não queria comprar um tapete, não planejava gastar US$ 2.500 dólares numa lembrança de São Francisco, nem pretendia levar para casa nada maior que uma caixa de sapatos.
     Não sei por que fiz aquilo, e nenhuma das introspecções que realizei nos dias subsequentes explicou alguma coisa. mas existem normas sociais até a respeito de comprar tapetes persas como um capricho de férias. O que sei é que gosto do jeito como o tapete combinou com a minha sala de jantar. Gosto porque faz a sala parecer mais aconchegante, e as cores combinam bem com a mesa e as paredes. Ou será que na verdade faz a sala parecer um salão de café da manhã num hotel barato? Talvez a verdadeira razão de eu gostar do tapete seja que não me sinto confortável pensando que gastei US$ 2.500 dólares num tapete feio para estender sobre meu lindo assoalho de madeira. Essa percepção não me aborrece; ela me faz apreciar melhor meu parceiro invisível, meu inconsciente, sempre fornecendo o apoio de que preciso para ir levando a vida aos trancos e barrancos."

(Trecho de Subliminar: como o inconsciente influencia nossas vidas, de Leonard Mlodinow)