domingo, 19 de junho de 2016

El vestido de mi madre I

A ideia era fazer um ensaio usando o vestido de noiva da minha mãe, objeto de desejo (obsessão saudável haha), desde quando eu era criança. Seria em outubro de 2015, período este que veio acompanhado por uma crise existencial "asquerosa"; o retorno de Saturno; os 30 dobrando a esquina; a volta das jujubas roxas congelantes; eu, decidindo ainda o que seria de tudo, pois nem tudo estava bom. 
Casar?! Um sonho de menina, uma fantasia respaldada por novelas, contos, filmes e minha "essência" romântica e sentimental que mais me confundia do que me direcionava. Aliás, de que servem essas fantasias, senão para nos fazerem perder de nós mesmas? Se bem que, às vezes, é bom "perder-se para se encontrar". No caso, foi o que houve comigo. E o ensaio não aconteceu, mas muitas outras coisas aconteceram. 


Estamos em junho de 2016, eu com meus 30 anos e 2 meses. Ah! Agora também conto meus dias em semanas: 34 semanas e 3 dias de um pequeno ser de luz crescendo dentro de mim. Trinta e quatro semanas de redescobertas, de choros, de ressignificações, de 27373727 sensações novas... 
Junho de 2016 e estou grávida. Não, não me casei. Estarei me casando hoje, comigo mesma, seguindo a ideia inicial do que seria o ensaio de outrora. Na tarde deste domingo farei as fotos com o vestido que a minha mãe usou no seu casamento, grávida de 4 meses, de um menino também. 
Na madrugada de ontem tivemos uma briga, eu e ela. Agora que vou ser mãe, tento entender ao máximo as "neuras" dela e, junto com minha irmã, ajudar a extirpá-las pela manutenção da sua própria sanidade. As pressões que a gente sofre por ser mulher, a busca pela perfeição em todos os âmbitos, o ter que cuidar e se cuidar... Admiro-a muito por ter conseguido, por ainda conseguir e por, além de tudo, fazer o possível pra manter a serenidade.
"Não deve ter sido fácil, hein, mãe?" - eu disse a ela. Ela também me pediu desculpas por coisas que não precisava ter dito e nos abraçamos. Parece que quando você se solidariza e honra uma força ancestral sua, você passa a enxergar de forma mais leve. Aquele abraço e o pedido de desculpas foram como uma bênção, de mãe para filha, no dia do casamento. E ali eu senti que o momento havia chegado e que, talvez, não tivesse feito tanto sentido fazer aquelas fotos, senão agora. 
Hoje é o dia do registro fotográfico de um momento de auto-comunhão, autoaceitação. Mesmo que nem tudo tenha acontecido como eu esperava, ao longo desses últimos meses, hoje vejo que meu maior compromisso é comigo mesma e, claro, com este pequeno ser de luz que aqui floresce.
Amar-me-ei e respeitar-me-ei, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Até que a morte (ou a vida?) me/nos separe. 
"Mas e se você encontrar alguém com quem queira compartilhar a vida?"
Aí a gente tenta e, quem sabe, não me caso pela segunda vez? Que venha leve e saudável. Assim seja.


quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Libertando os mamilos

Jamais conseguiria me lembrar, de maneira exata, quando comecei a ter receio de mostrar os "seios" em público. Não tenho certeza se entre 6 e 7 anos ou se especificamente com 9, quando estava brincando de X-MEN e notei que havia uma saliência despontando do lado direito. Adivinhem quem eu era? A Tempestade entrando na puberdade.
Queria mostrar pra Deus e o mundo aquela protuberância que estava ali, ganhando vida, tomando forma. Contei pra minha mãe e ela me explicou que meu tecido mamário estava começando a se desenvolver e que tudo o que estava acontecendo era normal. À época, tinha algumas amigas que já estavam com os seios em formação. Umas tinham até um pouco de vergonha de tomar banho na frente das outras meninas, e de trocar de roupa também. Percebia que outras até andavam um pouco curvadas pra não chamar atenção. Eu olhava admirada (seios sempre me fascinaram), mas só pude fazer mais parte desse mundo após vivenciar esse período e compartilhar minha história com elas.
Eu, particularmente, não tinha vergonha de expor os "peitinhos" na frente de outras meninas, mas e na frente de meninos? Começavam aí as inquietações psicológicas e, logo mais, os incômodos físicos. Seios crescendo são algo bem desconfortante, ainda mais quando se está acostumada a se jogar de bruços na cama. Aproximar a mesa da escola e, sem querer, encostá-la nos "mini seios" ao afastá-la pra mais perto, boladas de "queimada" ou até interceptações comuns de algum arremesso leve são alguns dos exemplos de situações dolorosas que uma garota enfrenta ao entrar na puberdade - sob o risco de perda total. Caso a bolada fosse muito forte, era preciso conferir se a "pedrinha" ainda estava lá. Assim nos orientavam as mais experientes.
Desconfortos à parte, era estranho pensar que, a partir de agora, eu não poderia mais ir à praia ou à piscina sem a parte de cima do biquíni. Não posso afirmar que foi algo imposto por uma pessoa específica, mas, sem dúvida, o que as pessoas mais próximas me diziam, influenciaram na construção do meu constrangimento. E, claro, seios femininos possuem toda uma carga de sexualização e tabu, perpetuada ao longo da nossa história.
Entretanto, anos mais tarde, tais imposições me fariam descobrir três grandes prazeres da vida: 
  1. Tirar o sutiã ao chegar em casa;
  2. Usar blusa sem sutiã por baixo;
  3. Fazer topless na praia (ainda que um topless bem tímido...). 
Eis a minha primeira vez:

Era uma manhã de início de setembro e eu estava passando férias com minha prima-irmã em Cartagena, Colômbia. Procurávamos uma praia mais afastada da cidade, de areia clara e água cristalina. Andamos alguns minutos pela areia da praia de Castillo Grande, onde o táxi nos havia deixado, olhamos um pouco adiante e vimos uma faixa de areia do outro lado. Após uma travessia de 15 minutos de barco com dois barqueiros locais, chegamos à praia de Punta Arena. Areia clara, água cristalina, porém não muito limpa e barracas aconchegantes. Após combinarmos o horário da volta com o nosso barqueiro, tiramos fotos e nos jogamos na água. Mais tarde, pedimos o almoço e nos acomodamos, tomando um suco e compartilhando nossas aventuras em terras colombianas, muito parecidas com as brasileiras, com uma dupla de meninos de Niterói, que conhecemos ali. 
Após acordar de uma soneca revigorante, em uma tarde quente, na praia movimentada, avistei o que parecia ser uma mulher de óculos, morena clara, deitada na areia somente com a parte de baixo do biquíni. Tive que olhar várias vezes antes de ter certeza se realmente era uma mulher, pois ela estava de bruços. Minutos depois, ela virou de barriga pra cima e eu pude ver que se tratava, sim, de uma mulher fazendo topless. Ela permaneceu um bom tempo naquela posição e depois foi ao mar se refrescar, como se não houvesse amanhã. E repetiu esse mesmo ritual várias e várias vezes. Eu não conseguia parar de olhar. Contemplava e sentia um misto de admiração e inveja. Eu sempre quis fazer aquilo. 
Prontifiquei-me a me permitir, mas hesitei várias vezes. Fiz que ia, mas não fui. Olhava para minha prima, que me encorajava com sinais de aprovação, mas que disse que não se aventuraria. Continuei sentada. Levantei, fui ao mar. Sentei novamente, até que criei coragem. Estendi minha canga na areia, deitei de bruços, tirei a parte de cima, como se fosse apenas pegar um sol nas costas para não ficar marca. Após alguns vários minutos (pensando que segundos depois de virar, seria presa por atentado ao pudor e sairia dali, algemada/esculachada), virei. Deixei a parte de cima de lado, bem perto, caso precisasse sair dali correndo. Senti um misto de excitação, medo e liberdade incomuns. Senti-me uma transgressora, uma criminosa, uma contraventora das mais perigosas, pois estava de peito aberto, literalmente, deixando a minha pele absorver aquele sol de meio de tarde. Ao menos estava com o chapéu na cara, o que protegeria meu rosto do sol e de algum possível registro fotográfico de alguém que se atrevesse a fazê-lo.  
Foram vinte minutos de mamilos ao ar livre com pessoas por perto, que inclusive não me olhavam com olhar de reprovação ou que, simplesmente, nem me olhavam. Vinte minutos que resgataram reflexões de anos e que me fizeram sentir mais aliviada e natural.
Tirei o chapéu do rosto e sentei, por um instante, sob o olhar de cumplicidade da mulher que, mesmo inconscientemente, me incentivou a, naquele momento, me despir de culpa, de medo e de vaidade.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Entre a cadeira e a máquina?

- Que droga de máquina! Não funciona! Toda hora a linha sai, a agulha quebra!
- Será que o problema está na máquina mesmo? Ou entre a máquina e a cadeira?

Numa aula de costura, esta é uma situação comum, corriqueira. Na maioria das vezes, o problema não está na máquina, mas no modo como a pessoa manuseia o tecido, coloca a agulha. Muitas vezes a linha não está bem passada e a pessoa está muito ansiosa por ter um prazo curto para entregar uma peça. Já presenciei esta cena com o diálogo acima, um bocado de vezes. Acredito que, em algum momento, eu tenha sido protagonista de uma delas haha Acontece! 
Quantos de nós já não se descabelaram, tentando finalizar um trabalho, uma peça de roupa, porém não dispúnhamos de serenidade naquele instante? Quantos de nós já não descontaram toda (ou quase toda) a frustração e raiva, neste conjunto de mecanismos. Quantos de nós já não descontaram raiva e frustração em pessoas? Agimos assim com as pessoas com as quais convivemos ou até com pessoas que nem conhecemos, no trânsito, no supermercado. Descontamos nossa frustração por não termos conseguido algo, sem parar pra pensar que, às vezes, a culpa pode ser nossa, por não termos nos esforçado o suficiente, por termos depositado muita esperança em algo ou em alguém, ou por, simplesmente, não termos o hábito de refletir sobre as nossas atitudes. Às vezes, o problema está na nossa visão sobre a vida. Não é regra, pois, às vezes, a máquina pode estar com um problema real, as pessoas podem estar equivocadas. O interessante seria olhar pra nós mesmos e, antes de atribuir a culpa a outrem, avaliar o nosso estado emocional e a nossa barrinha de serenidade, pra não sair metralhando xingamentos e quebrando tudo.
E aí? Será que o problema está sempre nas outras pessoas, nas coisas? Ou em nós mesmos, na forma como enxergamos as situações e em como reagimos a elas? Será que o problema está na máquina? Ou entre a máquina e a cadeira?

sexta-feira, 20 de março de 2015

Volto a citar aqui, o livro "Chega de desperdício", de John Naish. No capítulo 3, o autor nos convida a fazer alguns autoquestionamentos, que nos ajudarão a pensar antes de comprar um item.

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Tenha suficiente

Não compre essa coisa (até ter feito esses nove grupos de perguntas)


  • Preciso disto? Eu verdadeiramente, realmente, preciso disto, ou somente o quero?

  • Meu desejo por esta coisa foi implantado por técnicas de marketing?

  • Quero isto porque quero estar mais em forma, ser mais esperto, mais livre ou apenas mais legal? Se assim for, este item de consumo realmente fará este milagre?

  • Há qualquer outra maneira de conseguir meu objetivo sem acrescentar mais coisas?

  • Quantas horas a mais vou ter de trabalhar para pagar por isto? Que outra coisa eu poderia fazer com esse tempo de trabalho que me traria maior realização que este item de consumo?

  • Não há algo que eu já tenha que poderia substituir isto?

  • Eu quero mesmo ter de espanar, lavar a seco, pagar para fazer manutenção ou manter esta coisa de qualquer outra maneira?

  • Caso eu esteja substituindo alguma coisa que já tenho, qual é o problema do item velho?

  • Caso eu realmente necessite desta coisa, não há alguma maneira de eu consegui-la num site de troca, ou pegar emprestada com um amigo, vizinho ou parente?
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Questione-se!!

quarta-feira, 18 de março de 2015

Mission failed?

Há alguns anos, mais especificamente 3 anos atrás, me propus a ficar um ano sem comprar roupas e outros artigos de moda. Consegui me segurar alguns meses e depois sucumbi HAHA. Ano passado, inclusive, escrevi um post aqui sobre ter falhado nessa missão. Fui refletindo acerca do tema e percebi que deveria rever minhas motivações.
Em uma das minhas idas a uma loja de departamento, encontrei um livro chamado "Chega de desperdício", de John Naish. A linguagem do livro é muito boa e, logo no início, o autor fala sobre a nossa mania de estocar objetos e explica que nosso cérebro se desenvolveu para sempre querer mais, o que justifica a nossa "ilusão de escassez". Achamos que, por mais que tenhamos várias coisas, precisamos de mais e mais. Na década de 40, um período de real escassez por conta das guerras, o costume de armazenar objetos era perfeitamente justificável. Mas e hoje? Precisamos de tanto assim? Muitos de nós não para pra se questionar. E assim vamos comprando e estocando coisas que não nos servem. Trabalhamos pra ganhar nosso dinheiro e o gastamos em momentos de pura tensão, a fim de aliviar nossas frustrações. 
Criei o hábito de me observar mais, observar o que me motivava a comprar, passei a me questionar e observar meus impulsos. Percebi que na TPM eu me sentia muito mais impelida a comprar para amenizar a ansiedade que eu sentia nesses períodos. 
Com isso, passei a ficar mais atenta a minhas inclinações consumistas e fui despertando minha mente para a busca de um equilíbrio. Passei a pensar mil vezes antes de comprar algo, fazer perguntas mentais sobre a necessidade de comprar. Fui tentando descobrir métodos que me fariam enxergar que, de fato, não havia escassez, mas a falta de otimização daquilo que eu já tinha. Pensei em tirar fotos de todas as coisas que eu tenho para ter um registro do meu acervo. E não é que isso facilita muito mesmo? Comecei pelas caixas de tecidos, batons, sapatos e criei, junto com uma amiga, desafios no instagram, convidando outras pessoas a fazerem o mesmo. Não compro roupa desde Dezembro e a última maquiagem que comprei foi em Janeiro, em uma loja específica de produtos antialérgicos, pois comecei a ter alergia a produtos de algumas marcas. Também não compro sapatos desde Novembro. 
Acredito que a principal motivação tenha sido a vontade de economizar, a expansão da consciência ambiental e a preocupação em estudar os impactos ambientais e psicológicos consequentes do consumismo desenfreado. O importante é ir descobrindo predisposições e não negá-las ou recriminá-las, e reconhecer que estamos a todo instante passando por momentos adversos e sendo bombardeados por publicidade e disseminação de tendências, mas não precisamos ceder sempre.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Roupa nova, vida nova?

Amanhã tem virada de ano, e todos nós já estamos preparadíssimos para ouvir e proferir os clichês mais clichezentos do universo, tão característicos desta época do ano. 

"Ano novo, vida nova!"

Tudo novo! A gente estende e tenta encaixá-lo em todos os âmbitos: cabelo novo, amor novo, louça nova, calcinha nova, roupa nova... Roupa nova! 
Mas qual a origem desta regra, que diz que é indispensável comprar uma roupa nova para passar bem a virada de ano, e que é preciso usar uma calcinha ou cueca com uma cor que signifique um desejo para o ano seguinte? Superstição? Tradição? Falta de reflexão? Tudo ao mesmo tempo? É claro que cada país tem sua cultura, mas acho que, na maioria das vezes, o costume de comprar uma roupa nova vem dos pais, seja por motivos religiosos ou não. Ao menos foi o que aconteceu comigo, até certa idade: roupa nova para o Natal e para o Ano-novo, porque sim. Depois veio a adolescência, e eu me lembro do dia em que resolvi usar o meu vestido preto favorito, no Réveillon. Era um vestido velho, mas muito confortável e eu não tinha como intenção, ainda, quebrar paradigmas ou desconstruir conceitos, eu só queria me sentir confortável, bonita e jovem. Era virada de 2000 pra 2001, minha mãe (maravilhosa) surtou, é claro, disse que eu não teria um ano bom, se eu passasse de preto, que isso não era certo. Entretanto, tive um ótimo ano, a não ser pelas complicações inerentes à minha mente adolescente e por ter ficado de recuperação, pela primeira vez. Culpa do vestido preto e velho? Hahaha Claro que não! Culpa minha, porque eu ficava assistindo clipe a tarde inteira e deixava pra estudar na última hora. 
Saiu ano, entrou ano, em alguns momentos usei roupa velha, de novo, outras vezes cedi à superstição, usei calcinha rosa, usei a mesma calça 3 anos seguidos. Há algumas semanas, comecei a notar os anúncios nas lojas virtuais, nas vitrines dos shoppings, na tentativa de fazer você acreditar que, se você passar a virada de roupa nova, seu ano será melhor. Já me rendi a esta estratégia algumas vezes também. 
Estejamos atentos!
Roupa nova, calcinha nova (preparem-se pra mais um clichê), nada disso vai renovar sua vida, se você não renovar sua mente, sua percepção, seus conceitos. Touché!
E já decidi que roupa vou usar no dia 31: blusa preta (minha mãe não liga mais pra essas coisas e usa o mesmo vestido desde 2009, se eu usar preto, tudo bem), saia rosa, um sapato qualquer. Tudo velho! Significado? Nenhum, só gosto. Quanto à calcinha, havia comprado umas novas e separei uma branca para a noite de amanhã. Muita paz! Porém, me invade a mente mais uma frase clichê, mas que faz muito sentido (você achou que estaria livre dele por agora, não é?), e que diz "a paz é a gente que faz". 
E se eu passar a virada sem calcinha? Perereca arejada o ano inteiro. Será? Uhuuul!